sábado, 28 de junho de 2014

Artistas cristãos em um mundo secular


Com o passar dos anos tenho encontrado mais de meia dúzia de irmãos tentando lidar com a ideia de estarem envolvidos com “música secular”, sendo cristãos. E este é um longo debate. Mas, enquanto convivo com gente que tenta entender a vontade de Deus para esse grande dilema, pude perceber alguns princípios que podem ser aplicados além da área específica da música. Os músicos não são as únicas pessoas com esse tipo de problema.

O que quero dizer é:
E um cineasta cristão? Ele ou ela só poderão participar de festivais de filmes cristãos??
E um cara com dom para poesia beat¹? Ele terá de se afastar de saraus em ambientes seculares?
E um escritor trabalhando em um romance? Quanto “material cristão” será necessário em seu livro?

Então, o que devemos pensar sobre cristãos estarem envolvidos em movimentos “seculares”? É sempre errado? É algo que devemos incentivar?

Quero listar alguns pensamentos que tenho compartilhado ao longo dos anos com pessoas que estavam tentando achar a vontade de Deus para suas vidas, na área da música; mas não acho que é difícil ver conexões com outras áreas, como arte, cinema, etc.

Então, vamos explorar esses princípios juntos.

A questão mais importante
Owl City, banda de Adam Young, dos EUA

O ponto mais importante para questionar (e, às vezes, o mais difícil de responder) é: “Quais são os meus motivos para querer me envolver com a música secular?” A Palavra de Deus é clara: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10.31). Isso inclui a nossa arte.

Embora eu nunca presuma que os motivos de alguém serão completamente puros, existe uma diferença significativa entre quem vive para tocar nos palcos e quem vive para servir aos outros com seus dons.

Se houver qualquer dúvida sobre porque quero tocar fora da igreja, é uma boa ideia pedir a pessoas a quem respeito uma avaliação honesta dos meus motivos.

Redefinindo “sucesso”

O sucesso de um cristão no mercado não é, de nenhuma maneira, sinal de que o Reino está avançando ou que o Evangelho está sendo proclamado. O ímpio pode ser rico e famoso também (Sl 73.12).

Um hit não é necessariamente um sinal da bênção de Deus. Pode ser resultado de uma boa divulgação ou de uma grande musicalidade. Em muitas músicas que misturam o secular e o cristão, a letra falha em comunicar qualquer coisa que a distinga como cristã. Além disso, quando uma canção cristã se torna popular, as pessoas podem presumir que não há diferença entre músicos seculares e cristãos – é tudo sobre música e dinheiro.

Redefinindo “secular”
Samuel Úria, de Portugal

Uma música secular não é necessariamente anticristã ou ateia.

Há inúmeros exemplos de canções populares que apresentam valores morais, perspectivas profundas e comentários significativos sobre a vida e que não façam referência direta às Escrituras. O sucesso de músicas como “I Can Only Imagine”, “Butterfly Kisses”, e “Meant to Live” é clara evidência disso. (E, se você não gosta dessas músicas… apenas continue comigo nesse argumento…). Podemos usar nossa música para entreter, sem glamourizar ou promover os ídolos do materialismo, orgulho e egocentrismo.

Julgando Caridosamente

À distância, não podemos estar corretos quanto às motivações de um artista.

Enquanto podemos tirar conclusões sobre a vestimenta de alguém, sua linguagem, atitudes e ações, é difícil dizer a diferença entre um rebelde não salvo e um crente desinformado. Poucos de nós se sairiam bem se os detalhes de nossas vidas fossem publicados para milhões de pessoas lerem e criticarem. Isso não significa que os músicos que se declaram cristãos estão acima da avaliação ou julgamento público. Significa apenas que, na maioria dos casos, devemos focar mais nas diferenças do que em expressar julgamentos finais. No mínimo, nossas orações por um artista devem ser iguais à nossa crítica pública.

Sem desculpas para renunciar

Estar envolvido na música secular não é justificativa para abandonar a igreja ou minimizar nossa fé.

Um músico cristão pode não cantar abertamente sobre a salvação ou a cruz, ou não tocar música composta por cristãos. Mas nunca podemos afirmar que o nosso cristianismo fica em segundo plano e a nossa musicalidade em primeiro. Não existem músicos que por acaso são cristãos. Nossa identidade como cristãos deve direcionar tudo o que fazemos. Assim como Paulo, devemos estar aptos a dizer: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21)
Thiago Guillul, de Portugal

Em um pequeno e desafiador livroentitulado Imagine: A Vision for Christians in the Arts, Steve Turner escreve: “Às vezes eu escuto cristãos justificarem a menção de seus pontos fracos em sua arte porque ‘Eu sou um pecador, como qualquer outro’. Isso não é verdade. O cristão não é um pecador como qualquer outro porque o cristão é um pecador perdoado, e isso altera sua relação com o pecado”. Basicamente, a cruz muda tudo. O Evangelho redefine as nossas prioridades, redireciona as nossas paixões, e reformula nossa visão de mundo. Agora vivemos toda a nossa vida “pelas misericórdias de Deus” (Rm 12.1).

A Influência do Evangelho

O mundo precisa ver, em todas as áreas, pessoas que tenham sido genuinamente transformadas pelo Evangelho.

Músicos cristãos inseridos no mercado secular têm a oportunidade de influenciar não-cristãos não apenas com suas músicas, mas com suas vidas. Deus pode ter dado a eles a oportunidade de compartilhar o Evangelho com pessoas que não seriam alcançadas de nenhuma outra maneira.Kerry Livgren e Dave Hope são dois artistas que têm feito a diferença nesse sentido. E existem muitos outros. Alguns cristãos servirão à igreja na igreja. Outros servirão à igreja fora dela. Ambos mostram através de suas vidas que Jesus é o único Salvador e o Soberano do Mundo.

De Genêsis ao Apocalipse em uma música de 50 minutos

Vanessa Pinheiro, de Brasília
Nem todas as músicas escritas e cantadas por critãos precisam expor todo o Evangelho.

Russ Bremeier, em uma de suas colunas Music Connection², escreveu:

Algumas músicas falam explicitamente do Evangelho, e outras apenas plantam uma semente que pode levar ao Evangelho. Nossa arte é um reflexo da diversidade que somos como corpo de Cristo. Se ela é usada na igreja, no rádio, num programa de televisão, ou mesmo em um anúncio de 30 segundos, podemos ficar descansados sabendo que Deus pode usar a música que fazemos em inúmeras maneiras de servir a seus propósitos.

Pode haver músicas de todos os tipos, escritas sob a perspectiva daqueles que vivem à luz das alegrias e realidades do céu.

Eis o que importa: Conheça seu coração e procure fazer música para a glória de Jesus Cristo, não importa onde você a execute. Nossa arte não é sobre nós. Trata-se, em primeiro lugar, de chamar a atenção para o Deus que nos deu dons como a música. No final das contas, nenhum outro tipo de arte irá permanecer.

BOB KAUFLIN, no Reforma 21

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