quinta-feira, 5 de março de 2015

O Cristão e a Arte


Certa vez, ainda desconexo da visão de reino, de arte e de serviço (como a maioria dos crentes à época), indaguei-me: por que o crente não pode compor uma música para sua esposa e/ou namorada?
Talvez hoje a pergunta não seja tão de outro mundo, mas àquela época a (enjoativa) coleção Amo Você soava "destoante" aos pastores e a muitos irmãos conservadores. Hoje não me agrada pela forma e conteúdo.
Pois bem, vamos à questão central. Por quê não usar a música, uma das linguagens artísticas, para comunicar outros temas que não única e especificamente temas eclesiásticos?
Passeando pela rede, me deparei com alguns questionamentos de Gerson Borges, artista cristão. Confira:

Por que o grande Vinícius de Moraes, nosso poeta mais merecidamente “canônico”, ao lado de Bandeira e Drummond, podia cantar seus amores e desamores, suas muitas mulheres e desilusões, suas aquarelas e querelas, seu ceticismo tão próximo de Camus, seu agnosticismo existencialista que, no entanto e contraditoriamente, consolava-se com e nos seus afro-sambas, quase “pontos de macumba”, cânticos rituais do candomblé em discos consagrados e no set list de shows célebres como, por exemplo: “Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha”, gravado ao vivo no Canecão, em 1977, e eu não posso cantar um Salmo de Davi (1, 23, 84, 104, 131, 139, para citar apenas alguns dos meus favoritos) no meio de um show?
Por que o talentoso compositor mineiro João Bosco pode fazer o mesmo que o “poetinha” - expressar sua religiosidade - depois de cantar clássicos da Música Popular Brasileira, como sua parceria com Aldir Blanc eternizada na voz abençoada de Elis “O Bêbado e o Equilibrista”, e eu não posso dizer “É de coração/Tudo o que eu disse/Num hino de louvor /A Jesus de Nazaré...” – ou, no mínimo, sob pena de estar “misturando as coisas”, não devo? 
Por que eu, caso esteja na plateia, assistindo a um show de Chico Buarque, Nana Caymmi, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho ou qualquer outro artista brasileiro de renome, preciso aceitar como parte natural da cosmovisão do artista a expressão da sua fé ou crise/falta dela (exemplo: “Se eu quiser falar com Deus”, clássico dos clássicos do baiano tropicalista ), mas não recebo essa mesma contrapartida de “tolerância” se eu ou Carlinhos Veiga fazemos o mesmo, isto é, num espetáculo musical quando cantamos a beleza da Criação, a família, a dádiva da vida e, de repente, incluímos algo como Sérgio Pimenta, Guilherme Kerr, Jorge Camargo ou Rehder, ouvimos “Ah, isso é coisa de crente!”?
Preconceito.
Intolerância dos tolerantes.
Pode-se tudo desde que nada destoe do “ethos” pós-moderno.
Eu nunca pensei nesses termos, mas sou parte de uma minoria.
Até porque, cientificamente falando, minoria é um conceito sociológico - e não numérico, demográfico!
Wanda Sá, grande nome da Bossa Nova (ganhou o mundo no conjunto de Sérgio Mendes) narra a censura que sofreu ao se converter por influência - pasmem! - do João Donato: “nada de música de crente, hein? “Ou um amigo músico (que prefiro manter no anonimato) perseguido pelo grande crítico e musicólogo Zuza Homem de Melo por ser crente. É óbvio que existe uma clara (às vezes, violenta) rejeição da classe intelectual brasileira ao protestantismo evangélico. Obviamente, pelo que vemos da TV, com razão. A desconfiança procede. O problema é colocar tudo o que se diz “evangélico” na mesma panela. O pensamento (!) e a práxis de Edir Macedo, R.R. Soares, Waldomiro Santiago e o deputado fanfarrão Feliciano são tão evangélicos quanto “boquinha da garrafa”, “Lepo Lepo” e “Ai se eu te pego...“ devem ser consideradas algo da MPB. Teologia da prosperidade é algo tão cristão, protestante e evangélico quanto Ki-Suco é “Beaujolais” ou um “Merlot” chileno top.
Por favor, senhores críticos da “intelligentsia” tupiniquim, especialmente os jornalistas de cultura, esses sociólogos de almanaque que parecem nunca ter lido e compreendido de verdade Adorno, por exemplo: precisamos de um pouco, um tiquinho de coerência e integridade intelectual, senhores! Como assim um articulista do Segundo Caderno do Globo pode expressar preocupação quase histérica com a possibilidade da Marina Presidente (nas eleições presidenciais passadas), ao dizer: “Já pensou? Uma presidente evangélica? Não teríamos mais carnaval! E além de tudo, cafona, com aquele coque...”? A senadora, respeitabilíssima mundo afora, caso tenha lido essa bobagem, deve ter gargalhado de chorar!
Isso é confundir Cristianismo com Cristandade, como comentaria Søren Kiekergaard. É achar que Cristo e Cultura devem ser a mesma coisa, notaria Niebuhr. É confundir o norte-americano com o cristão-protestante.
Tem muita gente por aqui em Pindorama que acha que ser evangelical (batista, presbiteriano, metodista, por exemplo) é ser “gringo”. De novo: a crítica não é semeada e vicejada do nada e no ar. A liturgia e as idiossincrasias religiosas desse segmento do cristianismo são tipicamente estadunidenses. Para não citar a arquitetura: “Da linda pátria estou” é, na verdade, uma canção folk/caipira, assim como “Glória, glória, aleluia” é uma balada sobre um soldado sulista da Guerra de Secessão (1861-1865) -- só para mencionar alguns dos nossos “hinos”.
Mas é possível ser evangélico e ser brasileiro (estou escrevendo a respeito disso; um livro bem útil, espero e prometo). O problema é que nossos compositores e artistas não sabem do conselho sagaz de Emily Dickenson: “Fala toda a verdade – mas fale indiretamente”. Essa dica é especialmente salutar no que diz respeito ao desafio que cristãos evangelicais têm para fazer uma música para fora da igreja que possa ser cantada no culto e uma música para o culto (como Bach fazia) que possa ser executada fora.
Eu olho para meus companheiros – cantores e compositores cristãos -- assustados dentro dos seus guetos -- e os vejo declamando, apavorados, o Salmo 137.4: “Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?”. A resposta (a que eu encontro, seguindo Paulo, no seu sermão no Aerópago ateniense (Atos 17.16-34), Calvino, Kuyper, Francis Schaeffer, Hans Rookmaaker, historiador holandês e cristão de arte e a feliz interação de teologia e literatura na obra vasta, piedosa e erudita de Eugene Peterson, pode ser muito bem sintetizada na frase famosa de T.S. Elliot, em “Religion and Literature”: conheçam, critiquem e dialoguem com a cultura, para elaborar uma arte que seja “inconscientemente, em vez de deliberada e provocadoramente, cristã”. Ou seja, que digam ao nos ouvirem “Ah, isso é coisa de crente!” – mas com outra entonação. A que se deslumbrar diante da Beleza e da Verdade de mãos dadas. Perguntem ao músico Elomar se ele é cristão. O aclamado menestrel baiano dirá: “Sim, batista!”.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Declínio da Música Cristã



Fonte: Arte de Chocar

BISPO MACEDO, UM FALSO PROFETA QUE PREGA UM FALSO EVANGELHO


A inauguração Templo de Salomão pelo bispo Edir Macedo, seus falsos ensinamentos e a banalização da graça, bem como a pregação de um falso evangelho fazem do líder da IURD um falso profeta.

A foto ao lado não me deixa mentir. Vestido como um "sacerdote", com as "tábuas da lei" ao lado, recheado de misticismo Macedo afronta o Evangelho.

Eu já havia escrito um texto onde afirmei que a Igreja Universal do Reino de Deus definitivamente não é uma igreja evangélica. Hoje eu escrevo outro afirmando que o seu fundador, Edir Macedo é um falso profeta.

Edir Macedo Bezerra é carioca, tendo nascido em 1945. Seu pai era comerciante, sua mãe dona de casa, ambos católicos praticantes. Edir é o quarto de uma série de 33 filhos, dos quais 10 morreram e 16 foram abortados por terem nascido “fora de época”.

Em 1975, Edir Macedo foi consagrado pastor na Casa da Benção pelo missionário Cecílio Carvalho Fernandes. Dois anos depois juntamente com Carlos Rodrigues fundou a Igreja Universal do Reino de Deus onde tem ensinado e pregado um evangelho diferente do evangelho de Cristo.

O principal foco de Edir Macedo é a “luta” contra os demônios da pobreza além obviamente da espúria teologia da prosperidade. Em todos seus templos enfatiza-se a libertação dos espíritos, e a prosperidade financeira, usando para isso métodos onde o sincretismo e a mistura de crenças e fé se fazem presentes.

As doutrinas ensinadas por Macedo são repugnantes. Para curar ou operar milagres em uma pessoa, os "macedianos" fazem qualquer negócio. Em outras palavras isso significa vender "pedras da tumba de Jesus", comercializar " a água benta do rio Jordão", distribuir "a rosa milagrosa", empurrar goela abaixo "sal abençoado pelo Espírito Santo", além de reconstruir aquilo que Jesus destruiu". Se não bastasse isso, Edir Macedo defende o aborto, relativiza a ética, e sincretiza o evangelho expulsando dos fiéis “encostos” em “sessões de descarrego.”Caro leitor, como já afirmei a Igreja Universal do Reino de Deus não é uma Igreja protestante ou evangélica, assim também como seu fundador não pode ser considerado crente em Jesus.

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." (Gálatas 1:8-9)

O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1 Timóteo 4:1)

“Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.” (2 Timóteo 4:3,4)

“No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda.” (2 Pedro 2:1-3)

Minha oração é que Deus tenha misericórdia do bispo Macedo e que ele venha a se arrepender de seus ensinos, pecados e heresias

sábado, 28 de junho de 2014

Artistas cristãos em um mundo secular


Com o passar dos anos tenho encontrado mais de meia dúzia de irmãos tentando lidar com a ideia de estarem envolvidos com “música secular”, sendo cristãos. E este é um longo debate. Mas, enquanto convivo com gente que tenta entender a vontade de Deus para esse grande dilema, pude perceber alguns princípios que podem ser aplicados além da área específica da música. Os músicos não são as únicas pessoas com esse tipo de problema.

O que quero dizer é:
E um cineasta cristão? Ele ou ela só poderão participar de festivais de filmes cristãos??
E um cara com dom para poesia beat¹? Ele terá de se afastar de saraus em ambientes seculares?
E um escritor trabalhando em um romance? Quanto “material cristão” será necessário em seu livro?

Então, o que devemos pensar sobre cristãos estarem envolvidos em movimentos “seculares”? É sempre errado? É algo que devemos incentivar?

Quero listar alguns pensamentos que tenho compartilhado ao longo dos anos com pessoas que estavam tentando achar a vontade de Deus para suas vidas, na área da música; mas não acho que é difícil ver conexões com outras áreas, como arte, cinema, etc.

Então, vamos explorar esses princípios juntos.

A questão mais importante
Owl City, banda de Adam Young, dos EUA

O ponto mais importante para questionar (e, às vezes, o mais difícil de responder) é: “Quais são os meus motivos para querer me envolver com a música secular?” A Palavra de Deus é clara: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10.31). Isso inclui a nossa arte.

Embora eu nunca presuma que os motivos de alguém serão completamente puros, existe uma diferença significativa entre quem vive para tocar nos palcos e quem vive para servir aos outros com seus dons.

Se houver qualquer dúvida sobre porque quero tocar fora da igreja, é uma boa ideia pedir a pessoas a quem respeito uma avaliação honesta dos meus motivos.

Redefinindo “sucesso”

O sucesso de um cristão no mercado não é, de nenhuma maneira, sinal de que o Reino está avançando ou que o Evangelho está sendo proclamado. O ímpio pode ser rico e famoso também (Sl 73.12).

Um hit não é necessariamente um sinal da bênção de Deus. Pode ser resultado de uma boa divulgação ou de uma grande musicalidade. Em muitas músicas que misturam o secular e o cristão, a letra falha em comunicar qualquer coisa que a distinga como cristã. Além disso, quando uma canção cristã se torna popular, as pessoas podem presumir que não há diferença entre músicos seculares e cristãos – é tudo sobre música e dinheiro.

Redefinindo “secular”
Samuel Úria, de Portugal

Uma música secular não é necessariamente anticristã ou ateia.

Há inúmeros exemplos de canções populares que apresentam valores morais, perspectivas profundas e comentários significativos sobre a vida e que não façam referência direta às Escrituras. O sucesso de músicas como “I Can Only Imagine”, “Butterfly Kisses”, e “Meant to Live” é clara evidência disso. (E, se você não gosta dessas músicas… apenas continue comigo nesse argumento…). Podemos usar nossa música para entreter, sem glamourizar ou promover os ídolos do materialismo, orgulho e egocentrismo.

Julgando Caridosamente

À distância, não podemos estar corretos quanto às motivações de um artista.

Enquanto podemos tirar conclusões sobre a vestimenta de alguém, sua linguagem, atitudes e ações, é difícil dizer a diferença entre um rebelde não salvo e um crente desinformado. Poucos de nós se sairiam bem se os detalhes de nossas vidas fossem publicados para milhões de pessoas lerem e criticarem. Isso não significa que os músicos que se declaram cristãos estão acima da avaliação ou julgamento público. Significa apenas que, na maioria dos casos, devemos focar mais nas diferenças do que em expressar julgamentos finais. No mínimo, nossas orações por um artista devem ser iguais à nossa crítica pública.

Sem desculpas para renunciar

Estar envolvido na música secular não é justificativa para abandonar a igreja ou minimizar nossa fé.

Um músico cristão pode não cantar abertamente sobre a salvação ou a cruz, ou não tocar música composta por cristãos. Mas nunca podemos afirmar que o nosso cristianismo fica em segundo plano e a nossa musicalidade em primeiro. Não existem músicos que por acaso são cristãos. Nossa identidade como cristãos deve direcionar tudo o que fazemos. Assim como Paulo, devemos estar aptos a dizer: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21)
Thiago Guillul, de Portugal

Em um pequeno e desafiador livroentitulado Imagine: A Vision for Christians in the Arts, Steve Turner escreve: “Às vezes eu escuto cristãos justificarem a menção de seus pontos fracos em sua arte porque ‘Eu sou um pecador, como qualquer outro’. Isso não é verdade. O cristão não é um pecador como qualquer outro porque o cristão é um pecador perdoado, e isso altera sua relação com o pecado”. Basicamente, a cruz muda tudo. O Evangelho redefine as nossas prioridades, redireciona as nossas paixões, e reformula nossa visão de mundo. Agora vivemos toda a nossa vida “pelas misericórdias de Deus” (Rm 12.1).

A Influência do Evangelho

O mundo precisa ver, em todas as áreas, pessoas que tenham sido genuinamente transformadas pelo Evangelho.

Músicos cristãos inseridos no mercado secular têm a oportunidade de influenciar não-cristãos não apenas com suas músicas, mas com suas vidas. Deus pode ter dado a eles a oportunidade de compartilhar o Evangelho com pessoas que não seriam alcançadas de nenhuma outra maneira.Kerry Livgren e Dave Hope são dois artistas que têm feito a diferença nesse sentido. E existem muitos outros. Alguns cristãos servirão à igreja na igreja. Outros servirão à igreja fora dela. Ambos mostram através de suas vidas que Jesus é o único Salvador e o Soberano do Mundo.

De Genêsis ao Apocalipse em uma música de 50 minutos

Vanessa Pinheiro, de Brasília
Nem todas as músicas escritas e cantadas por critãos precisam expor todo o Evangelho.

Russ Bremeier, em uma de suas colunas Music Connection², escreveu:

Algumas músicas falam explicitamente do Evangelho, e outras apenas plantam uma semente que pode levar ao Evangelho. Nossa arte é um reflexo da diversidade que somos como corpo de Cristo. Se ela é usada na igreja, no rádio, num programa de televisão, ou mesmo em um anúncio de 30 segundos, podemos ficar descansados sabendo que Deus pode usar a música que fazemos em inúmeras maneiras de servir a seus propósitos.

Pode haver músicas de todos os tipos, escritas sob a perspectiva daqueles que vivem à luz das alegrias e realidades do céu.

Eis o que importa: Conheça seu coração e procure fazer música para a glória de Jesus Cristo, não importa onde você a execute. Nossa arte não é sobre nós. Trata-se, em primeiro lugar, de chamar a atenção para o Deus que nos deu dons como a música. No final das contas, nenhum outro tipo de arte irá permanecer.

BOB KAUFLIN, no Reforma 21

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Nigeriano é internado depois de se dizer ateu

Mubarak Bala
David Smith, no The Guardian [via Folha de S.Paulo]

Um nigeriano foi internado por sua família numa instituição de saúde mental, depois de dizer que deixou de acreditar em Deus.

Mubarak Bala, 29 anos, estaria sendo medicado à força por “insanidade”, há quase duas semanas, apesar do parecer de um médico para quem ele não apresenta problemas psicológicos.

Foi lançada uma campanha para pedir sua libertação, e o caso ressalta o fato de os ateus serem uma minoria perseguida em muitos países africanos.

Bala usa o apelido “ExMuslim” (ex-muçulmano) no Twitter, e seu perfil diz: “Engenheiro de processos químicos. Defendo a Verdade & Justiça. A religião insulta a consciência & razão humanas, mentindo que tenho outra vida. AteuAgnóstico.”

Ele vive em Kano, no norte da Nigéria, região de maioria muçulmana. O Estado adotou a sharia em 2000 e tem uma força policial rigidamente islâmica, a Hisbah.

De acordo com a União Internacional Humanista e Ética, que assumiu a defesa de Bala, quando este contou à sua família que tinha renunciado ao islã, a família o levou ao médico e perguntou se ele tinha uma doença mental. O médico o pronunciou saudável, mas a família procurou um segundo médico, para o qual o ateísmo seria efeito colateral de uma mudança de personalidade.

A família teria contado ao médico que Bala também afirmou ser um governador e contou outras “mentiras triviais”. Bala foi internado no Hospital-Escola Aminu Kano em 13 de junho, onde está sendo mantido contra sua vontade desde então.

Ele suplicou ajuda ao mundo externo em e-mails e tuítes enviados de vários telefones levados para dentro do hospital às escondidas. Em um e-mail, Bala disse: “A maior prova de minha doença mental foram grandes blasfêmias, a negação da ‘história’ de Adão e a apostasia, algo que o médico disse ser uma mudança de personalidade, dizendo que todo o mundo precisa de um Deus, que mesmo no Japão existe um Deus. E meu irmão acrescentou que todos os ateus que ele conhece tiveram doença mental em algum momento de suas vidas.”

Em tuíte enviado em 21 de junho, Bala escreveu: “Meu pescoço ainda dói por eu ter sido segurado à força por meu pai, e os golpes de meus tios deslocaram meu dedo e braço. Depois disso fui sedado por meu mano.”

Em outro tuíte, que se supõe fale do pai de Bala, este diz: “Sendo um líder, na dianteira do movimento islâmico na Nigéria, ele não pode ter um membro de sua família que não fosse muçulmano, por isso me declarou demente.”

Segundo o advogado Muhammad Bello Shehu, o pai de Bala conta uma história diferente. “Pelo que eu soube da família, Mubarak começou a expressar essas ideias seis ou sete meses atrás. O pai sabia que ele tinha deixado de orar e de ir à mesquita há um ano.”

“Mas quando ele começou a tuitar sobre isso e ir a público, isso poderia ter colocado sua vida e sua família em risco. Assim, de acordo com o pai, a principal razão por que ele levou Mubarak ao hospital foi para garantir sua própria segurança. Devido ao modo como as pessoas encaram a religião aqui, ele poderia ter sido linchado por fazer essas declarações.”

O advogado acrescentou que é preciso clareza em relação ao estado mental de Bala. “Os médicos são da opinião de que ele tem um problema psicológico, sim. Ele diz que não. A questão agora é chamarmos um analista psiquiátrico independente para avaliá-lo.”

Sabe-se que o telefone mais recente de Bala foi confiscado, mas que ele foi transferido de um quarto particular para uma enfermaria pública.

Sua detenção foi condenada pelo Movimento Humanista Nigeriano. Bamidele Adeneye, membro do movimento e secretário dos Humanistas de Lagos, disse: “Conheci Mubarak online há algum tempo e ele me pareceu muito lúcido, inteligente e espirituoso, além de corajoso e ousado. O que me surpreendeu é que ele é um ateu muçulmano, algo raríssimo na Nigéria.”

Adeneye recordou que Mubarak lhe disse de repente que seu irmão estava tentando interná-lo numa instituição psiquiátrica porque ele não acreditava em Deus. “Então ele falou que sua família o tinha mandado fazer tratamento por insanidade. Vi online que seu pai escreveu que a televisão incentiva o ateísmo, então cuidado.”

Adeneye disse ainda que Bala estava prestes a ir estudar na universidade South Bank, em Londres.

“Se você falar com Mubarak, perceberá que não há nada de errado com ele. Basicamente, ele disse à família que não acredita na história de Adão e Eva ou em Alá. A Constituição afirma claramente que a pessoa tem o direito de ser religiosa ou não religiosa. Isso é uma violação dos direitos humanos.”

“Em Kano há uma polícia islâmica. Temo pela vida de Mubarak. Alguém pode ir ao hospital atacá-lo. Estamos tentando tirá-lo de lá. Tenho medo, porque se isso pode acontecer com ele, pode acontecer comigo.”

Numa cidade de estimados 21 milhões de habitantes, os Humanistas de Lagos não contam com mais de dez membros ativos. Adeneye disse: “Os ateus são uma minoria malvista. Eu cresci numa família cristã e frequentava a igreja. Eu perguntava a meu pai: ‘Por que estamos indo?’. Ele me incentivava a continuar fazendo perguntas.”

“Muitos nigerianos acham os ateus horríveis. Já recebi muitas ameaças de morte e mensagens como ‘você não merece estar vivo’. Mas o ateísmo está crescendo em países como Quênia, Uganda e Gana. Graças a programas como ‘Cosmos’, as crianças estão entendendo a evolução e questionando seus pais, perguntando: ‘É possível realmente que todos tenhamos descendido de duas pessoas?’”

A União Internacional Humanista e Étnica expressou preocupação com a “deterioração da condição” de Bala, depois de receber relatos de que ele está enfraquecido, com as mãos trêmulas. Um porta-voz da organização, Bob Churchill, disse: “Parece que o que levou Mubarak a ser pressionado desta maneira terrível a aderir a pontos de vista religiosos que ele simplesmente não segue foi uma noção perversa de honra familiar. Trata-se de uma violação hedionda de sua liberdade de pensamento e crença.”

“Nós nos unimos a humanistas e defensores dos direitos humanos na Nigéria e aos ativistas que vêm chamando a atenção a este caso para pedir uma revisão imediata do caso de Mubarak por um médico que seja inteiramente independente da família e para exigir sua libertação imediata.”

O cristianismo e o islã ainda dominam a África, e o ateísmo é virtualmente tabu em grande parte do continente. Mas, como os ativistas dos direitos dos gays, os ateus estão finalmente encontrando sua voz, e Churchill crê que a maré esteja virando.

“Acho que muito frequentemente na África subsaariana as pressões sociais dificultam a discussão do ateísmo. Mas estamos assistindo a uma mudança lenta na situação, e não é possível enfiar a pasta de dentes de volta no tubo. As ideias estão ali fora, e uma parte da população está disposta a dizer que acredita nelas. Está começando a surgir uma reação muito séria.”

Tradução: Clara Allain

Fonte: Pavablog